Jornalista Andrade Junior

FLOR “A MAIS BONITA”

NOS JARDINS DA CIDADE.

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CATEDRAL METROPOLITANA DE BRASILIA

CATEDRAL METROPOLITANA NAS CORES VERDE E AMARELO.

NA HORA DO ALMOÇO VALE TUDO

FOTO QUE CAPTUREI DO SABIÁ QUASE PEGANDO UMA ABELHA.

PALÁCIO DO ITAMARATY

FOTO NOTURNA FEITA COM AUXILIO DE UM FILTRO ESTRELA PARA O EFEITO.

POR DO SOL JUNTO AO LAGO SUL

É SEMPRE UM SHOW O POR DO SOL ÀS MARGENS DO LAGO SUL EM BRASÍLIA.

domingo, 30 de junho de 2013

Anjos

Anjos - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA -

Fala-se muito em Deus, mas pouco em anjos. Acredito neles, nos zelosos guardadores, não sentados em nuvens tocando trombeta, mas aqui, no plano terreno. Um pode ser o anjo do outro. Você pode ser meu anjo, e eu o seu.

Vou compartilhar uma história que aconteceu no final de fevereiro. Recebi um convite para integrar a equipe de uma instituição britânica liderada pelo filósofo e escritor Alain de Botton, a The School of Life, que está introduzindo atividades no Brasil. Topei. No entanto, meu inglês é precário.

Consigo viajar sem pagar micos, me comunico em hotéis e restaurantes, mas não tenho fluência para manter uma conversa digna com um estrangeiro. E isso será fundamental no novo desafio profissional que me surgiu. Preciso aprender inglês pra ontem. Como? De preferência, estudando fora, fazendo um curso de imersão. Até então, isso nunca tinha passado de um sonho da juventude.

Dias depois de a The School of Life me procurar, recebi outro convite: lançar meus livros em Torres. Passei quase três horas autografando para veranistas e moradores da cidade. Quando a livraria estava fechando a porta, um homem insistiu em entrar. Um turista. Ele pediu minha dedicatória, a última da noite, e me entregou seu cartão. Era, simplesmente, um renomado gestor de cursos de inglês no Exterior. O procurei na semana seguinte e, para encurtar a história, estou matriculada em uma das escolas mais sérias da Inglaterra, já tenho um flat alugado e estou com toda a burocracia resolvida. De quebra, fiz um novo amigo.

Esse tipo de história é recorrente na minha vida. Qualquer questão que se apresente, a solução cai do céu em dias, às vezes em horas, através de alguém que não conheço. O exemplo que dei é elitista, mas já aconteceram coisas bem mais prosaicas e milagrosas – nunca me apertei. Sempre um anjo apareceu do nada.

Pode-se chamar isso de ter sorte, ou uma boa estrela. Dá no mesmo. Estamos falando de receptividade e de doação. Você tem um anjo porque também já foi o anjo de alguém. E se tudo não passar de baboseira, que seja. Num mundo rude como o nosso, há que se flertar com o esotérico.

No momento em que você me lê, já estou em Londres. Amanhã começam minhas aulas e não vai ser moleza: serão seis horas por dia, afora os temas de casa e alguns compromissos com a The School of Life, a entidade que deu início a essa minha movimentação. Por isso, ficarei ausente do jornal durante todo o mês de julho. Prometo retornar em agosto mais inspirada e, se os anjos ajudarem, reencontrar vocês com saudades. Até breve.

Cuidado com Sebastião

Cuidado com Sebastião - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO -

Que dias temos vivido, hein? De monotonia é que não podemos fazer queixa. Continuo achando que ninguém sabe como surgiu e em que vai terminar a confusão das últimas semanas, mesmo depois que o Congresso foi tomado por uma operosidade nunca vista, apressando-se em aprovar medidas antes quase impossíveis. Apareceram palpites em grande variedade, mas nenhum me convenceu muito ainda. Recebo e-mails alarmistas e alarmados, leio artigos e reportagens, ouço comentaristas de televisão e assisto a vídeos na internet, e a profusão de diagnósticos e prognósticos chega a entontecer. Complica-se isto com a circunstância inquietante de que, se levarmos em conta todas as denúncias que não cessam de pipocar, seremos forçados a inferir que não se pode acreditar em nada, até naquilo que testemunhamos pessoalmente, pois o que vemos, ou até o de que participamos, pode não ser mais que a ação de inocentes úteis que não sabem o que fazem, ou uma farsa para ocultar interesses escusos de grupos e organizações daninhas, ou o que lá se queira pensar.

Na mídia, claro, não se pode confiar. Jornais, rádios e televisões são mantidos no cabresto do governo, que lhes fornece anúncios e comerciais bilionários, além de abrir facilidades fiscais e fechar os olhos a graves irregularidades. Paradoxalmente, a mídia, no ver do mesmo governo e seus correligionários, é golpista e a voz das elites conservadoras, que tudo fazem para derrubar um governo de raízes populares, devendo por isso mesmo ser submetida a “controle social”. Voltando ao outro lado, a mídia está toda aparelhada por militantes a serviço do governo, em todas as redações, são eles os que realmente mandam, só se publica ou vai ao ar o que o governo quer. Trocando de lado outra vez, os colunistas e comentaristas têm todos o rabo preso, um porque é funcionário fantasma do gabinete de um político, outro porque é um carreirista puxa-saco dos patrões e ganancioso, outro porque é um conhecido fascista — ou comunista, conforme — e por aí vai, parece uma gangorra.

É uma situação terrível, porque, por mais que não se queira, a mídia sempre nos alcança. Mesmo que não atentemos em qualquer noticiário ou comentário, o vizinho, o colega de trabalho e o pessoal do boteco não fazem o mesmo e terminamos vítimas indiretas da má informação. Claro, se não podemos acreditar na mídia, também não podemos acreditar no vizinho, porque ele, como os amigos do boteco, tiram da mídia suas informações e, não raro, até suas opiniões. Não podemos acreditar cegamente nem em nós mesmos, porque é muito difícil, ou impossível, fugir da influência do que circula na mídia e não há como avaliar o que, em nossa maneira de pensar sobre fatos como as manifestações de rua, não terá tido origem na mídia.

A tanta razão para desconfiança e dúvida some-se o atabalhoamento em que ficaram os governantes. Em algumas ocasiões, lembrava uma sátira ou uma comédia de pastelão. Também confrange os súditos serem informados de que, na hora do aperto, a presidenta amarelou e procurou o ex-presidente e atual presidento, para saber o que fazer, como umaadolescenta em busca do apoio paterno. Além de tudo o que essa dependência patética representa, o sujeito fica, pelo menos no meu caso, um pouco envergonhado com essas coisas, aquele tipo de vergonha que a gente sente pelos outros. Em seguida, ela apareceu para se pronunciar, virando a cabeça para lá e para cá enquanto falava, como quem lê o teleprompter com certa dificuldade. Ou será que ela não sabia bem o que significavam as palavras que repetiu em voz alta? Talvez não soubesse mesmo, naquelas horas nervosas, porque, no dia seguinte, como todos viram, ela disse que não disse o que todo mundo pensou que ela dissera — e eis aí mais um exemplo de como a verdade tem andado cada vez mais fugidia.

Mas, se as ilações, hipóteses e explicações agora circulando ainda não conseguem ser inteiramente convincentes e ainda paira no ar alguma iminência de monta, por enquanto não notada, o fato é que a ruidosa e universal rejeição a políticos e partidos que vem marcando as manifestações acendeu uma luzinha vermelha na mente dos governantes, tanto assim que eles vêm procurando atender às demandas com uma presteza que nos deixa de queixo caído. Também eles não sabem em que tudo isso vai terminar e, pelo sim, pelo não, tratam de corrigir como podem aquilo que não só o povo aponta, mas eles há muito sabem que está errado.

Aguilhoados pelos verdadeiros donos da soberania, os governantes mudaram sua postura habitualmente arrogante, indiferente ou cínica e baixaram a cabeça, diante da rebelião dos governados. As instituições também vêm funcionando e cumprindo seu papel. Ou seja, não é necessário nenhum radicalismo, basta que passemos a abandonar os costumes e práticas que têm caracterizado nossa vida política e contra os quais deveremos estar em permanente vigilância e possível mobilização. É primarismo advogar que sejamos governados “diretamente” pelo povo, através de decisões coletivas tomadas através de internet, porque isso só iria redundar nas decisões apressadas, emocionais e inconsequentes que as multidões, mesmo as eletrônicas, costumam tomar — e uma situação assim redunda em anarquia. Tampouco podemos ceder ao impulso, talvez atávico, de esperar a volta do rei Sebastião, que nos libertará, com virtude, carisma e amor ao povo, de todas as nossas aflições. Creio que já há aspirantes a esse posto, mas onde estava Sebastião, quando começaram as manifestações e as mudanças já obtidas? Estava malocado, esperando a hora de dar o bote e abocanhar o que não foi feito por nenhum Sebastião, mas pelo povo. Não se pode garantir que o povo não seja outra vez engabelado, mas venham com outra conversa, que o velho papo já não cola.

A voz das ruas e o passarinho

A voz das ruas e o passarinho - ADRIANA CALCANHOTTO

O GLOBO -
Os brasileiros estão nas ruas por motivos óbvios e acho bem estranho que o governo ache estranho


Embrenhada na mata amazônica, mais especificamente em Carajás, na turnê que homenageia Tom Jobim, com os queridos colegas Zélia Duncan, João Bosco, Roberta Sá e Zé Renato, estou quieta no meu quarto ouvindo o silêncio. Sabe-se que não há silêncio na mata, mesmo assim, prefiro mil vezes às campainhas de garagem de Ipanema, aos toques de celular metidos a engraçadinhos, às buzinas impacientes, à música no elevador, nas salas de espera, a tudo o que não deixa o silêncio em paz, por puro medo do silêncio, eu acho. Estamos hospedados em uma casa incrível e ouço à minha janela o jardineiro varrendo folhas secas sem pressa nenhuma. Daí a pouco ele passa a regar as plantas, batucando as gotas d'água nas folhas mais duras. Espio pela janela e vejo que ele usa fones de ouvido, alheio ao silêncio da mata e ao barulhinho bom que está produzindo. Parece acompanhar o que escuta com os movimentos da mangueira, empunhada com leveza e preguiça. Não muito ao longe o Sabiá Laranjeira, aquele que além de ter um canto belíssimo imita o canto de outros pássaros, e que os poetas adoram citar, gorjeia, entregando que é época de acasalamento. Ele atravessa o silêncio com suas melodias inventadas a partir do canto dos pássaros que repete, como qualquer compositor. Precisa perpetuar sua espécie e para isso canta, para atrair a metade que lhe falta para a empreitada. Canta, como os trovadores provençais, para aquela que no entanto pode não o querer. Canta como se não houvesse amanhã, transbordando de beleza meus pobres tímpanos, tão fatigados. Enquanto isso, na TV ligada, sem som, as cenas são impressionantemente lindas. O Brasil profundo, acordado, nas ruas, em manifestações pacíficas e apartidárias, coisa que não pensei que fosse viver para ver, muito menos o governo. Portanto não sei agora se participo, acompanhando ao vivo às manifestações, ou se ouço o sabiá, tipo um Antonio Brasileiro (urubu acho que não canta) traduzindo com seus trinados o mesmo Brasil profundo, no seio, no dentro da floresta amazônica. Posso gravar o sabiá para ouvir mais tarde, mas não seria a mesma coisa, o gravador registraria o canto mas não o agora do sabiá, que não sabe de mim ou da voz das ruas e seus tristes vândalos fim de festa. Ou mesmo de quantas árvores estão sendo dizimadas neste exato minuto a uns poucos quilômetros daqui, em gesto de autodestruição a que os humanos estão acostumados, e em que passarinho algum acreditaria. As imagens do povo encarapitado nos espaços curvilíneos do Niemeyer são muito comoventes, e fantasio que o arquiteto gostaria de assisti-las. Sei que vou rever à exaustão as imagens, em edições comportadinhas, com o mesmo texto lido por diversos locutores. Diferente de assistir ao vivo ao repórter cinematográfico ajustar o foco enquanto as pessoas clamam por um tratamento de cidadãos, que pagam impostos e não têm os serviços básicos, clamam por educação, por um sistema de saúde decente, por transparência nas contas públicas, por paz, por poesia, enojados da politiquinha que usa cargos como moeda, fisiológica, nepotista, cínica, corrupta, atrasada. Os brasileiros estão nas ruas por motivos óbvios e acho bem estranho que o governo ache estranho. Munidos de seus celulares os manifestantes são eles mesmos os repórteres de sua causa e deixam assim as coberturas tendenciosas comendo poeira, é tudo novo, vivo, ao vivo. O canto do sabiá prossegue em suas melodias de amor, harmonizado agora pelo canto de um sanhaço mais ao longe, um espetáculo. Penso no privilégio que é estar cantando nosso maestro soberano Brasil adentro justo no instante em que o Brasil acorda de sono pesado. O melhor compositor do mundo, como disse Frank Sinatra, sendo cantado a plenos pulmões por onde temos passado. Em teatros ou ao ar livre, o público canta todas as canções de cabo a rabo junto conosco. A galera que trabalha por trás do palco canta também o repertório do show, é lindo demais. Nunca fui muito boa em fazer escolhas, desde pequena achava chato ter de escolher, porque não posso ficar com todas as opções, é tão mais prático viver sem estar dividida. Então acontece isso, de eu estar com um olho na TV e os ouvidos no passarinho enquanto durar cada um dos eventos, que me aceleram o coração. Nas ruas não sei o que vai acontecer mas intuo que amanhã vai ser outro dia. Para a floresta amazônica posso sempre voltar, enquanto ela ainda existir, e assim prometo a mim mesma que vou voltar, sinto, sei que ainda vou voltar, para ouvir cantar minha sabiá, cantar minha sabiá.

A juventude não dormirá

A juventude não dormirá - DIANA LICHTENSTEIN CORSO

ZERO HORA -

Em 1964, num pequeno texto com esse título, escrito para a revista New Society, o psicanalista Winnicott tentava dialogar com aqueles que se horrorizavam diante de manifestações juvenis: "É dada publicidade a cada ato de baderna juvenil porque o público não quer ouvir ou ler a respeito dessas façanhas adolescentes que estão isentas de qualquer desvio antissocial. Além disso, quando acontece um milagre, como os Beatles, existem aqueles adultos que franzem o cenho quando podiam soltar um suspiro de alívio _ quer dizer, se estivessem livres da inveja que sentem do adolescente desta fase". Veja bem, ele retrata a obsessão do público por uma minoria de vândalos, cego à verdadeira relevância dos acontecimentos. O título refere a uma personagem de Shakespeare, que odiava a juventude e desejava que se dormisse dos 16 aos 23 anos.
É interessante a menção aos vovôs do rock, justamente para lembrar de que o tempo passa e crescemos como civilização assimilando e aprendendo com o que parecia dissonante e impossível de catalogar. O que mais alarma os intérpretes de plantão, nos quais me incluo, é a ignorância do rumo que as insatisfações expressadas vão tomar. Não se sabe do resultado das próximas eleições, nem como as cidades receberão a Copa e principalmente está para se descobrir como funcionam a política e a informação na era da internet. Como tampouco se sabia da comunicação após o telégrafo e o telefone, do rumo da música depois do rock, do destino da família após a revolução dos costumes, das mulheres após a pílula, do livro após o computador. Os adultos de diferentes épocas são reincidentes no medo do desconhecido, lembram seus tempos de interrogações e temem não ter feito as melhores escolhas. Os jovens representam esse processo, estão fadados a atravessá-lo e acabam suportando melhor o que não controlam.
Nesse e noutros textos, Winnicott lembra que a juventude passa nos indivíduos, que ficam velhos como os Beatles, mas nas sociedades a expressão juvenil chegou para ficar. Ele a chamou elogiosamente de "imaturidade adolescente", que seria a fonte das dúvidas que movem revoluções e permitem invenções. Tudo o que nos tornamos como civilização tem uma dívida com aqueles que enxergaram as coisas de modo diferente.
Mudam os atores, mas a peça da juventude segue em cartaz. A vantagem da visão de mundo adolescente, ou juvenil, é justamente sua relação com o tempo, a capacidade de reconhecer, com tristeza, mas sem pânico, que o futuro é incerto. Ser jovem é conviver com as próprias indefinições: duvidar sobre a quem e como amar, no que acreditar, como trabalhar, a quem admirar e o que se quer aprender. Ficar velho é satisfazer-se com o senso comum, é alardear o fim do mundo a cada vez que alguém faz um barulho que nosso cérebro não consegue decodificar. Encerro com Winnicott, pedindo que sejamos capazes de interpretar e conter nossa "indignação moral causada por ciúme da juventude". Corrompendo Quintana: a meninada passará, a juventude passarinho.

A vez do povo desorganizado

A vez do povo desorganizado - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP -Os políticos se tornaram uma casta que se apropriou da máquina do Estado em seu próprio benefício

As manifestações de protesto ocorridas nas últimas semanas em numerosas cidades brasileiras são, sem sombra de dúvida, um fenômeno novo na vida política do país, nos últimos 20 anos.

Causou surpresa a muita gente --inclusive a mim-- que o aumento de R$ 0,20 nas tarifas de transporte urbano tenha provocado tamanha revolta e mobilizado tanta gente.

É que essas manifestações traziam consigo outras motivações que não se revelaram no primeiro momento. Logo pôde-se ver que o aumento das tarifas foi apenas o detonador de um descontentamento maior que põe em questão o próprio sistema político que nos governa.

Ouvi e li opiniões segundo as quais trata-se de um fenômeno internacional, uma vez que, em vários países, protestos populares têm se repetido com frequência. Trata-se, creio eu, de uma opinião equivocada, já que as razões desses protestos são diferentes de país para país. O que há de comum neles é a influência das redes sociais, que possibilitam mobilizações em tal escala.

No caso do Brasil, por exemplo, está evidente que a revolta é contra os políticos em geral, sejam de que partidos forem, pertençam ao governo ou à oposição. Isso se tornou evidente em diversos momentos quando militantes deste ou daquele partido tentaram se manifestar: foram vaiados e até espancados. Foi o caso do PT que, oportunista como sempre, tentou tirar vantagem da situação e se deu mal.

Mas de onde vem esse horror aos políticos? A resposta é óbvia: eles se tornaram uma casta que se apropriou da máquina do Estado em seu próprio benefício.

Essa máquina, que é mantida com o dinheiro de impostos escorchantes, eles usam para empregar seus parentes e companheiros de partido, para enriquecer a si e a seus familiares, manipulando licitações e contratos de obras públicas --e usam isso, sobretudo, para se manter no poder.

Essa situação tornou-se particularmente insuportável depois que Lula assumiu o governo e pôs em prática uma política populista que veio agravar ainda mais aqueles fatores negativos da vida política brasileira. Quem nele acreditava viu, decepcionado, que ele ignorou os compromissos éticos assumidos e aliou-se a figuras como Maluf e o bispo Macedo --sem falar na compra, com dinheiro público, de partidos corruptos.

Essa aliança, com o submundo político, de um líder que surgiu como uma esperança de renovação, só poderia conduzir as pessoas em geral --e particularmente os que confiaram nele-- à desesperança total quanto ao futuro da nação.

O mais grave é que, somando-se isso à política assistencialista que adotou, tornou-se eleitoralmente imbatível. Assim, sem outra saída, os inconformados foram para as ruas. Nessa rejeição ao poder constituído e aos políticos em geral, o povo descontente pode não saber ainda por onde vai, mas sabe por onde não vai.

Não por acaso, a maioria desses manifestantes é de classe média. Não foram os pobres dos subúrbios que vieram para as ruas protestar, pois recebem Bolsa Família e melhoraram de vida. Quem está insatisfeita e revoltada é a parte da sociedade que só perdeu com o populismo lulista, uma vez que o dinheiro público, em lugar de ser investido em hospitais, escolas e serviços públicos, foi e é usado em programas assistencialistas e demagógicos.

Por outro lado, o lulismo cooptou as entidades representativas dos trabalhadores e dos estudantes (a CUT e a UNE), que, contrariamente a suas origens e à sua história, agora impedem manifestações contrárias ao governo. Desse modo, tanto os trabalhadores quanto os estudantes não têm quem os represente na luta por suas reivindicações.

Por isso, meses atrás, afirmei nesta coluna que a única solução possível seria o povo desorganizado ir para as ruas, já que não conta com as organizações que deveriam representá-lo. É o que acontece agora: o povo desorganizado está nas ruas. Desmascarada, a CUT tentou juntar-se aos manifestantes, mas foi repelida por eles.

Sem alternativa, a presidente Dilma promoveu uma reunião com governadores e prefeitos para aparecer como porta-voz dos inconformados, e propôs medidas que não se sabe quando nem se serão mesmo postas em prática.

Os protestos no século 21

‘Os protestos no século 21′, um texto de Roger Cohen

PUBLICADO NO ESTADÃO

Os brasileiros têm uma expressão política corriqueira: “Vai acabar em pizza”. Uma coisa que acaba em pizza é uma coisa que não dá em nada, nadinha, coisa nenhuma. A expressão é habitualmente usada para a conclusão previsível de investigações judiciais de crimes do colarinho branco praticados com impunidade pela gente poderosa do Brasil.
A impunidade é uma das questões que estão animando os protestos de massa por todo o Brasil, que começaram com a ira contra a elevação do preço dos transportes. Um padrão emergiu. De Sidi Bouzid, na Tunísia, onde um bate-boca sobre um carrinho de frutas desencadeou a Primavera Árabe, a Istambul, onde um sublevação teve origem nos planos de construir um shopping num parque, essas erupções animadas por hashtags do Twitter têm traços em comum.
Pequena faísca, grande conflagração; líder desorientado, movimento sem liderança; poder estatal verticalizado e rígido, protestos horizontais ágeis; autoridade severa, juventude endiabrada; força do Estado, flexibilidade do Facebook; repressões policiais, reagrupamentos ágeis; acusações de conspiração, respostas irônicas.
Basta é basta. Fidel Castro passou anos em Sierra Maestra preparando sua revolução. O Twitter dispensou isso. Ou não? Uma questão central desses movimentos movidos a mídia social é, nas palavras de Zeynep Tufekci, professor da Universidade da Carolina do Norte, “como se vai de um ‘não’ para um ‘vão’?”
Em outras palavras, as erupções cujo slogan comum poderia ser “basta é basta!” são boas como protesto e resistência, mas não tão boas para definir objetivos ─ sejam eles políticos, sociais ou econômicos ─ e se organizar para alcançá-los.
Sua empolgação é negativa. Elas tendem a fracassar no afirmativo. Elas não têm líderes. Não há um carro de som. As agendas mais parecem uma linha de tempo do Twitter ─ fascinante, mas difusa ─ do que expressões coerentes de um objetivo. Não há um Martin Luther King ou um Nelson Mandela ─ ou Tancredo Neves e Lula (entre outros) ─ liderando a luta pela democracia brasileira há três décadas.
Como disse Wael Ghonim, ex-executivo do Google, sobre a revolução egípcia: “Nossa revolução é como a Wikipédia. Todos contribuem para o conteúdo, mas você não sabe o nome de ninguém.”
Da Tunísia ao Cairo houve um objetivo nítido: a deposição de um déspota. Foi só depois que esse objetivo foi concretizado é que a fraqueza de um movimento sem líderes tornou-se visível e grupos que alardeavam sua organização preencheram o vazio. Eles não foram capazes, contudo, de saciar a sede de renovação de suas nações.
Na Turquia, o movimento contra a construção do shopping transformou-se numa porção de coisas quando a polícia expulsou os ocupantes do Parque Gezi. Ele passou a ser sobre a guinada autocrática de um líder conservador no poder há 11 anos, sobre a invasão das vida privadas pelo Estado, sobre o controle que enfraquece a mídia e a maneira como o partido governista, o da Justiça e Desenvolvimento (AKP), vê inimigos por toda parte.
O movimento passou a ser também sobre como a investida do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan contra a Turquia secular de Mustafá Kemal Ataturk errou o alvo: se não havia razão para uma jovem religiosa não frequentar a universidade usando um véu, não havia razão para políticos do AKP vociferarem contra muçulmanas de biquíni.
Basta é basta. No Brasil, a ira se volta mais contra toda a classe política do que contra a presidente Dilma Rousseff. Ela tem a ver com a maneira como os políticos vivem como mandarins, com privilégios, escândalos de compra de votos e impunidade. Tem a ver com o desvio de recursos: mais de US$ 13 bilhões em novos estádios e preparativos para a Copa de 2014, enquanto necessidades básicas de saúde, educação e transporte continuam não atendidas. Tem a ver com a violência policial quando acaba a tolerância com a injustiça.
Mudança no jogo. Esses movimentos irromperam em duas das principais potências emergentes do século 21, cujas economias vêm crescendo em ritmo acelerado. Não pensem que isso é coincidência. Turcos e brasileiros, particularmente os jovens, reagem a um senso de forças globais além de seu controle; eles estão lembrando os líderes de consultar e prestar contas e dizendo aos financistas que justiça social importa.
Quando eles se juntam, afirmam uma humanidade comum contra o desenvolvimento atomizador e o shopping center globalizado. Será que conseguirão passar do “não” ao “vão”? Isso demandará uma organização numa escala jamais vista, decisões sobre objetivos e líderes. Eu não vejo isso tudo terminando em pizza. De Túnis a Istambul, do Cairo a São Paulo, alguma coisa está ocorrendo. O medo acabou. Isso já é, em si, uma mudança do jogo. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
*ROGER COHEN É COLUNISTA DO JORNAL AMERICANO THE NEW YORK TIMES

A hora do rush

A hora do rush - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR -

São legítimas as pendências no Congresso a respeito da forma de atender às exigências dos manifestantes. O grito das ruas deve ser traduzido em ações rápidas, legais, eficazes. Perigosas, altamente provocadoras, são algumas astúcias que a base aliada pretende utilizar para diminuir a dimensão das mudanças reclamadas. Como se a revolta já estivesse amainada, os ânimos aplacados e o roteiro eleitoral apto a prosseguir intocado.

As reivindicações não são descabidas: ao exigir melhores condições de transporte urbano, educação e saúde, exigia-se em simultâneo uma drástica revisão nos gastos públicos. Para compensar as perdas com a manutenção das tarifas de transporte, o governador Geraldo Alckmin antecipou-se e eliminou uma secretaria rigorosamente inútil. Terá de ir adiante; há muita gordura para ser cortada e tornar a máquina pública mais eficiente.

As aberrações administrativas na esfera federal, muito mais visíveis, deveriam ter sido identificadas logo nos primeiros pronunciamentos da presidente da República: o número assombroso de 39 ministérios para um atendimento público precaríssimo já deveria estar sendo examinado. O bispo Marcelo Crivella na pasta da Pesca não é a única extravagância funcional. Os partidos que apoiam o governo já deveriam ter sido advertidos que a presidente Dilma e o PT não podem arcar sozinhos com todos os prejuízos desta crise, as fidelidades doravante já não poderão ser compradas de forma tão aviltante.

Ao longo dessas quase quatro semanas de estresse escancarou-se a inutilidade dos ministérios dos Transportes e das Cidades. Seus ocupantes se autoexcluíram do processo decisório, sequer apareceram para mostrar quem são.

Um único ministério das infraestruturas absorveria as atuais pastas de Minas e Energia, Transporte, Portos e Aeroportos. Com o nome de Ministério da Justiça e Cidadania, poderiam ser absorvidas as secretarias de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Políticas para Mulheres. A existência de um ministério específico não garante a satisfação das necessidades de determinado setor. Qual a justificativa para separar Pesca e Aquicultura de Agricultura, Pecuária e Abastecimento? Por que razão micro e pequenas empresas não podem ser uma repartição do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio? Educação não se encaixa em Ciência, Tecnologia e Inovação? Quanto se ganharia em recursos, espaço, equipamentos, mordomias e, sobretudo, eficácia com um drástico enxugamento no primeiro escalão?

Depois do seu encontro com a presidente da República, um dos líderes do vitorioso Movimento do Passe Livre revelou sua decepção ante o despreparo do governo na questão da mobilidade urbana. Não deu detalhes; supõe-se que não faltem projetos financiados por empreiteiras para obras faraônicas e sistemas modais sofisticados.

É certo, porém, que nenhum departamento de qualquer esfera pública jamais resolveu encarar o desafio da desconcentração dos horários nas grandes e médias cidades. A infernal tensão da hora do rush – uma das principais motivadoras dos protestos – talvez pudesse ser aliviada com uma cidade funcionando em tempos e turnos diferenciados. Sim? Não? Talvez: em uma cidade mobilizada em torno do seu bem-estar, a hora do rush pode transcorrer sem traumas.


Só há uma cura: a política

Só há uma cura: a política - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP -
O Legislativo, por ser mais transparente, é alvo da insatisfação. Mas o Judiciário também tem de ouvir as ruas


Para os males da Polis, a política é sempre o remédio, mesmo quando é também a doença.

Só se cura a política, seja qual for o estágio da anomalia, com mais política.

A voz das ruas, em regra invocada como sintoma de rejeição à política, nada mais é que o grito primal da política.

Mesmo os que fazem da antipolítica estandarte servem-se da mais antiga e desonesta das formas de ação política: o falso moralismo. Veem o mar revolto e lançam sua rede na expectativa não de acalmá-lo, mas de fisgar alguns cardumes.

É preciso cuidado com os rufiões da revolta alheia. A antipolítica, que criminaliza a política para comandá-la, deságua sempre em ditadura --ou seja, nada mais do que a política em sua manifestação mais odiosa e atrasada.

O Brasil já viveu algumas vezes essa experiência; já cansou-se da dobradinha formada por populismo e autoritarismo, cuja consequência é viciar e desmoralizar as instituições. O Brasil sabe que por aí não há soluções, senão mais e mais problemas.

O que as ruas nos dizem é que é necessário um basta à demagogia e à desonestidade, que resultam naquilo que os protestos expressam: a má qualidade dos serviços públicos --nos transportes, na saúde, na educação, na segurança, na justiça--, a corrupção dos agentes públicos, os temores com a alta da inflação.

Não se pede revolução, mas decência.

Fala-se em insatisfação difusa. Espremendo-se, porém, os slogans, chega-se ao vilão da história: o Estado --aí compreendidos os três Poderes, que de fato merecem o que estão recebendo.

Afinal, falamos de um Congresso dissociado da vontade popular, de líderes políticos contestados por seus representados, de serviços públicos de má qualidade e de uma Justiça morosa.

O Legislativo fica sempre com a maior carga, não por ser o pior, mas o mais transparente. E é o menos problemático, já que, de quatro em quatro anos, renova sua composição nas urnas.

O Executivo renova apenas seu comando --Presidência, governos estaduais e prefeituras--, mas não seu estamento burocrático, em grande parte aparelhado pelos partidos políticos.

O Poder Judiciário, por sua vez, renova-se muito lentamente, dada a vitaliciedade dos seus cargos.

Parece-me, portanto, evidente que também este Poder tem de ouvir a voz das ruas. Não para ser reverente a gritos contingentes, mas para se submeter a seu valor permanente, que é a observância do Estado Democrático de Direito.

Enquanto os parlamentares e os chefes de executivos têm seus nomes e fotos publicados diariamente nos jornais e são apontados nas ruas, os membros do Judiciário são desconhecidos da população.

Não fosse a cobertura intensa do julgamento do processo do mensalão, aliás, o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) saborearia o anonimato.

A impunidade é a expressão mais perversa da injustiça. E não se trata de fenômeno recente. Registre-se que este debate se mantém, há mais de um século, atualíssimo.

Mudou alguma coisa? As ruas sabem que não.

A política vai mal, o povo não se sente representado pelos partidos --e isso precisa mudar. Mas, no Brasil de hoje, nenhum Poder está em condições de puxar a orelha do outro.

Não podemos, no entanto, encarar a nossa história, a nossa formação, como um fatalismo. Podemos e devemos mudar essa escrita.

O passado não existe para oprimir a nossa inteligência, mas para nos instruir rumo ao futuro, para nos advertir sobre os erros que já foram cometidos.

Todos navegam nas mesmas águas, turvas e poluídas. O saneamento requer humildade, bom senso e ação conjunta, para que o parágrafo único, do artigo 1º da Constituição -"todo o poder emana do povo"- seja honrado.

Poder para os eleitores

Poder para os eleitores - HENRIQUE MEIRELLES

FOLHA DE SP -

As manifestações populares trouxeram urgência à longamente debatida reforma política. Vários assuntos estão em foco, como financiamento de campanha, fortalecimento dos partidos, transparência etc.

Um ponto fundamental em qualquer sistema político é o de garantir que os eleitos, de fato, representem os interesses dos seus eleitores.

A experiência de muitos países mostra que, quanto mais próxima do eleitor e passível de cobrança, melhor é a re- presentação parlamentar em todos os níveis. E ela é fun- damental para a aprovação de leis de interesse da comunidade e a boa fiscalização do Executivo.

A prática política de países com democracias consolidadas aponta que um sistema bem-sucedido para assegurar a proximidade com o eleitor e a sua capacidade de fiscalizar seu representante é o distrital puro, em que cada parlamentar é eleito por um determinado distrito com um número limitado de eleitores.

Isso traz enormes benefícios como: 1) o candidato é mais conhecido e mais próximo da comunidade que o elege; 2) a campanha é mais barata, já que o número de eleitores cortejados é bem menor; 3) os eleitores têm capacidade muito maior de acompanhar a atuação do seu representante; 4) será mais fácil aos eleitos prestar contas aos eleitores, já que estarão concentrados geograficamente, e não espalhados pelo Estado de forma muitas vezes errática.

O sistema distrital também pode transformar todas as eleições em escolhas majoritárias, desde que, em cada distrito, seja eleito apenas o mais votado nos níveis federal, estadual ou municipal.

Isso tende a reduzir o número de partidos de forma natural, já que sobreviverão só aqueles com presença majoritária em cada distrito.

E, na medida em que os candidatos disputam eleições entre número menor de eleitores, suas propostas e compromissos pós-eleitorais serão muito mais claros e transparentes.

Nos países com sistema distrital consolidado, um parlamentar que contrarie a linha de conduta preferida de seus eleitores ou a plataforma de seu partido tem muito mais chance de ser punido nas eleições seguintes.

Esse sistema, portanto, aumenta de forma substancial a eficiência e os bons resulta- dos do sistema político, uma vez que a proximidade do eleito com o eleitor garante maior eficácia e transparência em todo o processo.

Isso tudo não é parte da nossa tradição política e cultural, e, portanto, a reforma deve seguir outras direções na tentativa de melhorar o sistema.

É necessário, no entanto, analisar alternativas bem-sucedidas para que possamos aprender não só com os nossos erros, mas com os erros e acertos dos outros.

O golpe do PT

O golpe do PT - MERVAL PEREIRA

O GLOBO -
É claro que a reforma política é fundamental para avançarmos no processo democrático, e não é à toa que há anos buscam-se fórmulas para aperfeiçoar nosso sistema político-partidário, responsável principal pelas distorções na atividade política.

Quando os manifestantes nas ruas dizem que não se sentem representados pelos partidos políticos, e criticam a defasagem entre representante e representado, estão falando principalmente da reforma política.

Mas há apenas uma razão para que o tema tenha se tornado o centro dos debates: uma manobra diversionista do governo para tentar assumir o comando da situação, transferindo para o Congresso a maior parte da culpa pela situação que as manifestações criticam.

O governo prefere apresentar o plebiscito sobre a reforma política como a solução para todos os males do país e insistir em que as eventuais novas regras passem já a valer na eleição de 2014, mesmo sabendo que dificilmente haverá condições de ser realizado a tempo, se não pela dificuldade de se chegar a um consenso sobre sua montagem, no mínimo por questões de logística.

A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ministra Cármen Lúcia, convocou para terça-feira uma reunião com todos os presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para começar a organizar a logística para um possível plebiscito.

Ao mesmo tempo, a diretoria de Tecnologia do TSE já começou a estudar qual a maneira mais rápida de montar uma consulta popular nas urnas eletrônicas. Só depois dessas reuniões, o TSE terá condições de estimar o tempo previsto para implementar o plebiscito, e até mesmo sua viabilidade, já que o sistema binário (de sim ou não) pode não ser suficiente para a definição de temas tão complexos quanto o sistema eleitoral e partidário.

Mas já há movimentos dentro do governo no sentido de que o prazo mínimo de um ano para mudanças nas regras eleitorais, definido pela Constituição, seja reduzido se assim o povo decidir no plebiscito. Ora, isso é uma tentativa de golpe antidemocrático que pode abrir caminho para outras decisões através de consultas populares, transformando- nos em um arremedo de república bolivariana.

A questão certamente acabará no Supremo, por inconstitucional.

A insistência na pressa tem boas razões. O sonho de consumo do PT seria mudar as regras do jogo com a aprovação das candidaturas em listas fechadas, em que o eleitor vota apenas na legenda, enquanto a direção partidária indica os candidatos eleitos.

Como o partido com maior apelo de legenda, o PT teoricamente seria o de maior votação.

Mas, se as mudanças não acontecerem dentro do cronograma estabelecido pelo Palácio do Planalto, será fácil culpar o Congresso pela inviabilização da reforma política, ou o TSE.

Já no 3º Congresso do PT, em 2007, o documento final - que Reinaldo Azevedo, da "Veja", desencavou - defende exatamente os pontos anunciados pela presidente Dilma em seu discurso diante dos governadores e prefeitos.

Ela própria admitiu que gostaria que do plebiscito saíssem o voto em lista e o financiamento público de campanha. Até mesmo a Constituinte exclusiva, que acabou sendo abortada, está entre as reivindicações do PT desde 2007. "Para que isso seja possível, a reforma política deve assumir um estatuto de movimento e luta social, ganhando as ruas com um sentido de conquista e ampliação de direitos políticos e democráticos", diz o documento do PT.

Para os petistas, "a reforma política não pode ser um debate restrito ao Congresso Nacional, que já demonstrou ser incapaz de aprovar medidas que prejudiquem os interesses estabelecidos dos seus integrantes".

A ideia de levar a reforma para uma Constituinte exclusiva tem como objetivo impedir que "setores conservadores" do Congresso introduzam medidas como o voto distrital e o voto facultativo, "de sentido claramente conservador", segundo o PT.

De acordo com o mesmo documento, "a implantação, no Brasil, do financiamento público exclusivo de campanhas, combinado com o voto em listas preordenadas, permitirá contemplar a representação de gênero, raça e etnia".

Portanto, a presidente Dilma está fazendo nada menos que o jogo do seu partido político, com o agravante de ser candidata à Presidência da República na eleição cujas regras pretende alterar.

Um diálogo oriental sobre protestos -

Um diálogo oriental sobre protestos - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP -
Há muitos pleitos objetivos que podem ser atendidos. Alguns já foram. Outros terão respostas erradas


Há dias, um chinês me fez a pergunta: esses protestos no Brasil têm algo do episódio da praça da Paz Celestial, em 88, você não acha? Na praça da Paz Celestial, o que se viu foi um grupo de estudantes, num momento de pressão de preços, protestando contra a corrupção. Não é o mesmo entre vocês?

A pergunta causou-me certa perplexidade. Comparar momentos históricos tão distantes em países com regimes políticos tão diferentes pareceu-me, no mínimo, ousado. Nós, no Brasil, vivemos com o debate. Pagamos por isso: vivenciamos as ineficiências de gestão que regimes democráticos trazem naturalmente consigo. O problema é que as ineficiências aqui passaram do ponto.

A China tem um regime que lhe permite imprimir à gestão pública toda a eficiência --ou pelo menos a celeridade-- que o unipartidarismo proporciona. Não se lhe pode tirar o mérito. Há países unipartidários que não conseguem produzir bons governos. Mas daí a fazer a comparação é salto muito grande.

Resisti à tentação de uma resposta que encerrasse a conversa, por desprovida de fundamento. Pedi ao meu interlocutor que fosse mais específico. Ele prosseguiu: em 88, inicialmente, o governo achou que a manifestação moralmente correta dos estudantes fosse algo positivo.

Em seguida, a coisa foi ficando mais complexa. Os trabalhadores se juntaram, e os protestos se multiplicaram. A população passou a dar comida e água aos manifestantes. Até estudantes protestavam.

Mas, de repente, disse-me, houve a percepção de que os riscos se tornaram grandes demais. E veio o que o mundo assistiu. Os últimos repórteres da televisão que noticiaram os manifestos fizeram-no em lágrimas.

Zhao Ziyang, secretário geral do Partido, alguém pré-disposto à conciliação, perdeu o cargo. Ascendeu Jiang Zemin, reformador, bom dirigente, que, oito anos após deixar a Presidência, ainda comanda, de longe, boa parte do mundo político. O resto, acrescentou, você sabe bem.

O resto nos diferencia extraordinariamente.

Neste momento em que muitos tentam identificar que antecedentes há para os fatos recentes --Paris 68, a Turquia atual, Ocupe Wall Street-- pareceu-me interessante narrar uma visão descolada das referências ocidentais. Há, no inconsciente coletivo, algo que conecta fatos que diferem diametralmente nos seus desdobramentos.

Quanto à nossa realidade, creio que a geração mais jovem entenderá melhor o que está ocorrendo. Há muitos pleitos objetivos e razoáveis que podem ser atendidos rapidamente. Alguns já foram. Outros terão respostas erradas. Outros suscitarão decisões atropeladas, com menos reflexão do que demandariam em circunstâncias normais. Vamos esperar que, no cômputo geral, o resultado agregue valor.

As máscaras e o refrão "sem partido" são como se as ruas dissessem: estamos aqui, as demandas são muitas. Viemos desestruturar uma ordem que não é mais satisfatória. Não nos cabe achar caminhos. Vocês, políticos, que o façam, com decência. Estaremos vigilantes. Pedir coerência aos fatos e às vozes é enfoque velho. E propor saídas verdadeiramente satisfatórias, no curto prazo, uma impossibilidade.

É câmbio ou é salário?

É câmbio ou é salário? - CELSO MING

O ESTADÃO -

Alta do dólar é perda de salário. Para quem não tem intimidade com economia, parece difícil entender que o câmbio, ou seja, o preço da moeda nacional em relação a outra, corresponde também ao poder de compra do salário. "Se meu salário é em reais e está fixado no meu contrato de trabalho, por que varia de acordo com a cotação do dólar"? - é o que tanta gente pergunta, especialmente agora que o câmbio segue aos solavancos.
Talvez fique mais fácil entender essa relação se, em vez de salário, tomarmos o conceito de renda, que corresponde ao valor da produção, o mesmo que Produto Interno Bruto (PIB). Esse bolo é distribuído pela população, em fatias maiores ou menores, dependendo da condição de cada um. Se o câmbio está valorizado, ou seja, se em reais se compram mais dólares, a renda também é puxada para cima, isto é, o salário ganha maior poder de compra em moeda estrangeira. Do ponto de vista da produção, salário mais valorizado devido à alta do dólar implica mais custos de produção (salário mais alto em dólares). E, do ponto de vista do comércio exterior, salário elevado compra mais mercadorias importadas. Por isso, o câmbio valorizado pressiona a balança comercial: a população come parte do que seria exportado, o que derruba as receitas com exportações e aumenta as importações.
Numa situação de crise econômica, sobretudo quando essa crise atinge as contas do País com o exterior, é preciso conter os salários. Um jeito impraticável de fazer isso é o governo baixar um decreto que reduza, digamos em 20%, todos os salários, proventos, honorários, aluguéis, dividendos, enfim, tudo o que for considerado renda. É mais prático, simplesmente, desvalorizar a moeda: o dólar estava a R$ 2,15 e passa a R$ 2,40.
A manobra é semelhante ao que ocorre quando o governo quer poupar energia elétrica no verão. Seria complicado garantir o cumprimento de um decreto assim: a partir de amanhã, todos vão se levantar e dormir uma hora mais cedo. É claro, não funcionaria. É mais prático decretar o horário de verão com o adiantamento nos relógios em uma hora.
Antes da criação do euro, os alemães perceberam que não podiam contar mais com a capacidade de determinar a política cambial, porque a moeda passaria a ser comum aos 17 membros, como é hoje. Com isso, viram que não podiam aumentar suas exportações com manobras de desvalorização da moeda nacional. O que fizeram? Para garantir sua competitividade dentro e fora do bloco, os alemães fizeram no governo Gerhard Schroeder um acordo nacional, que envolveu políticos e sindicatos, determinando a redução dos salários. Foi como diminuíram os custos de produção sem recorrer à desvalorização cambial. Uma das maiores queixas dos demais sócios da área do euro é que os alemães jogam duro ao aceitar sacrifícios insuportáveis que depois querem impor aos vizinhos.
No Brasil, fazemos o contrário. Em razão de vários fatores (inclusive da valorização do real diante das outras moedas fortes), os salários vêm aumentado muito acima da produtividade do trabalho. O resultado (entre outras questões) é mais consumo, menos investimento e uma indústria cada vez mais anêmica.
O fator câmbio.
A melhora da dívida líquida em reais do setor público em maio não foi o resultado da melhora das condições fiscais (que englobam receitas e despesas do setor público). Foi, mais que tudo, consequência do impacto da alta do dólar (desvalorização do real) sobre os créditos (que estão em dólares) das reservas em reais. Ao final de maio, as reservas estavam a US$ 374,4 bilhões.

Tropeços da governança

Tropeços da governança - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP -
O caminho para a efetividade do voto democrático não é fácil, mas é sempre melhor que o das ditaduras


Governança não foi palavra de emprego comum na língua portuguesa, até alguns anos atrás. Passou a ser usada no direito empresarial para definir a estrutura de comando da empresa. Daí foi transposta, nos estudos de ciência política e aceita para caracterizar o próprio governo ou a ação de governar.

Em inglês, o tradicional "Black's Law Dictionary" não incluíra "governance" no rol dos vocábulos aceitos pelo direito norte-americano ou inglês até os anos 70. Já o dicionário moderno de Bryan A. Garner, em 1995, aceita o termo. É o modo de dirigir um governo ou uma empresa, assim como em nosso país, do "Dicionário Jurídico" de Maria Helena Diniz.

A razão para incursionar por essa pesquisa se liga ao fato jurídico-político de que o ato de governar o país corresponde a dirigir a máquina estatal com qualidade e competência, marcadas por equilíbrio e imparcialidade. Afasta a má governança.

A alternância livre do poder político é essencial. A dignidade do equilíbrio depende, porém, de que conchavos, imediatamente posteriores à definição dos vitoriosos, não leve a recomposições e trocas espúrias, com adesões de segmentos do legislativo às posições do Executivo e, vez por outra, à "compreensão" pelo Judiciário de dubiedades dos vitoriosos em pleitos sucessivos.

As eleições brasileiras --do nível federal, ao estadual e ao municipal -- não deixam o eleitor tranquilo com o resultado das urnas ante as alterações decorrentes dos quocientes partidários. É frequente que o eleitor veja seu escolhido, com número superior de sufrágios, mas ser preterido por força dos coeficientes partidários.

A reavaliação das regras eleitorais é subordinada, quanto aos preceitos gerais, pelos arts. 18 a 30 da Constituição Federal e no referente aos partidos políticos, pelo art. 17. Os limites impostos à elegibilidade são sujeitos às normas do art. 14, aí incluído o voto secreto. Os preceitos da Carta Magna são regulados, especialmente pelo Código Eleitoral. Nesse campo há certo desencanto do povo, pois terminada a eleição (em todos os níveis) as promessas são passadas para o segundo plano e os "acertos", marcados por trocas de favores em que são poucos os aptos para atirar pedras ao telhado dos vizinhos.

Sabe-se que o aprimoramento do sistema não tem condição fácil de ser encaminhada. Sabe-se também que o presente momento não parece conveniente para o completo reexame das garantias da contagem justa nas eleições, a benefício do povo.

O progresso resultante do pleito eletrônico, legitimando quanto aos números, as escolhas (dos menores municípios à republica) deve ser completado, no campo de garantia da licitude do número de votos, para mais além dos conchavos pós-eleitorais.

Falou-se muito em plebiscito, referendo e iniciativa popular como procedimentos constitucionais para a efetividade da soberania do povo (art. 14 da Constituição, regulamentado pela Lei n. 9.709 de 1998). São úteis, mas devem ser objeto de longo esclarecimento do povo, para colher os efeitos benéficos que deles podem resultar.

O caminho para a efetividade do voto democrático não é fácil, mas é sempre melhor que o das ditaduras, quando subsistem apenas as manifestações dos detentores do poder, sejam eles quais forem.

O que disseram as ruas?

O que disseram as ruas? - SÉRGIO AMARAL

O ESTADO DE S. PAULO -
Nos Cadernos do Cárcere, Gramsci faz uma curiosa comparação: os fenômenos políticos são por vezes como as doenças de pele, podem aparecer de um dia para o outro, mas são o resultado de um longo processo de transformações orgânicas. As manifestações de rua estão de volta. Ocorreram nos EUA (Ocupe Wall Street), na Grécia e na Espanha (contra a política de austeridade), na França (contra o casamento gay) no Egito (sob a influência da Primavera Árabe) e em tantos outros países e pelas mais distintas razões. São a expressão de um processo mais amplo de enfraquecimento do Estado-nação sob o efeito pinça das pressões que vêm de cima -em decorrência da globalização dos fluxos econômicos - e das demandas que vêm de baixo -como resultado do fortalecimento da sociedade civil. A noção mesmo de Estado-nação sofre expressiva revisão, com considerável impacto sobre a fisionomia da democracia.

Em termos simplistas e até mesmo caricatos, o cidadão quer pagar menos impostos, mas exige mais e melhores serviços; não se contenta em ser representado, mas quer participar das decisões; e assume, mediante novas formas de organização da sociedade, um conjunto de atribuições que eram antes privativas do Estado. O terceiro setor vem desempenhando papel relevante na defesa de causas legítimas, como a igualdade entre homens e mulheres, a defesa do meio ambiente e a proteção dos direitos humanos, temas que se incorporaram à agenda dos países e dos foros internacionais.

Era difícil prever que as ruas das principais cidades brasileiras viessem a ser tomadas por manifestações espontâneas e tão numerosas. Entre nós, as passeatas anunciam a chegada da crise econômica ao cotidiano das pessoas e das empresas -o baixo crescimento, o endividamento, a inadimplência e a inflação. Mas expressam também o repúdio à corrupção e a revolta contra o desperdício. Basta ouvir o que os manifestantes gritam na rua e ler o que dizem seus cartazes para entender o que significam. É um desabafo,
ainda difuso, contra as privações do cotidiano e uma frustração crescente com um sistema político que não é capaz de dar curso às demandas da sociedade e transformar reclamos justificados em decisões acertadas.

À sua maneira, as passeatas explicitam a falta de legitimidade das instituições. Os sindicatos perderam boa parte da relevância que já tiveram. Os partidos políticos não se mostram capazes de representar e conciliar os interesses da sociedade. Os governos hesitam diante da rapidez e magnitude das transformações.

Essas manifestações são ainda, predominantemente, uma iniciativa da classe média. As camadas de renda mais baixa estiveram, pelo menos até agora, mais atentas ao processo de distribuição de renda e aos programas sociais que as beneficiem. Nesse sentido, as passeatas organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) deixam uma indagação no ar, que está em saber como a mensagem das ruas foi ou será filtrada para os grupos de baixa renda.

Até agora o governo não logrou cumprir com promessas que já havia feito: o crescimento continua a derrapar, a inflação sobe, os investimentos na infraestrutura ainda não decolaram. Os agentes econômicos parecem ter perdido a confiança no País, não investem ou emigram. Saúde, educação, transportes e segurança continuam precários, enquanto os gastos para a Copa do Mundo são percebidos como injustificados ou abusivos se comparados com as reais necessidades da população. Em São Paulo, como noticiado pela imprensa, os usuários dos transportes aumentaram 16%, enquanto a frota de ônibus encolheu.

A representação parlamentar enredou-se no mensalão, emitiu sinais confusos no trato dos direitos humanos, mobilizou-se por causas equivocadas, como no caso da PEC 37, que visava a tolher o papel do Ministério Público nas investigações. O cidadão,hoje mais consciente e participativo, não se considera representado por aqueles em quem votou.

A mensagem das ruas é ainda difusa. Falta-lhe por vezes foco. Mas foram assim também as primeiras manifestações do Movimento Verde,que chegou a propor a paralisação do crescimento. Com o tempo as propostas amadureceram e se tornaram convincentes.

O MPL mostrou maturidade. Corretamente evitou ser confundido com arruaceiros e assaltantes. Quis deliberadamente afastar-se da companhia oportunista de partidos políticos. Percebeu claramente que sua força não está na violência ou na desordem, mas na conquista da opinião pública e na capacidade de colocar seus temas na agenda prioritária de partidos políticos e governantes.

As manifestações não vão desaparecer, tampouco perenizar-se. Poderão ser suspensas quando o objetivo for atingido, como ocorreu agora em relação ao preço das passagens. Ou amainar quando a resposta parecer convincente. Mas deverão voltar às ruas caso não melhore a qualidade das políticas públicas na área social ou persista a impunidade em casos notórios de corrupção. A esse respeito, uma eventual reversão na condenação dos réus do mensalão terá um efeito explosivo.

As passeatas não são um fato novo. Mas ganharam em capacidade de organização e de divulgação com o avanço das tecnologias da comunicação. Estão-se tornando mais frequentes e consequentes. Numa era de afirmação da democracia em escala mundial, em que golpes e revoluções têm espaço cada vez mais reduzido, os movimentos sociais e suas manifestações se afirmam como instrumento crucial para a transformação da sociedade.

Os gritos da rua são um sinal de alerta. Como bem assinala Manuel Castells, "o eco dos movimentos sociais é bem mais forte do que os próprios movimentos, assim como as suas consequências nas instituições e no mundo dos negócios".

Meu coração não precisa de partido

Meu coração não precisa de partido - CACÁ DIEGUES

O GLOBO -

O movimento sem nome ainda não acabou, mas, aconteça o que acontecer, já é um movimento vitorioso. Desde o dia 6 de junho, as manifestações se sucedem pelo país afora, com mais ou menos gente. Elas já alcançaram certamente seu apogeu, mas nem por isso esgotaram seus temas.

Com os jovens do movimento, como escreveu Arthur Dapieve, “a libido voltou à política”. Exatamente o oposto do que os políticos fizeram com as duas. Para os de direita, aquilo que chamamos genericamente de povo é sempre ignorante e incapaz, serve apenas para elegê-los. Para os de esquerda, o povo é apenas um número em suas análises de classe, uma multidão. Para uns e outros, ele só existe quando eleitor.

No Ocidente, o pensamento político tem sido uma caricatura do fundamentalismo iluminista, a ideia de que é possível entender nosso comportamento privado ou público apenas pelos instrumentos que a razão nos dá. Consagramos ser possivel reduzir a complexidade humana a mecanismos que geram um futuro inevitável e aí, enquanto esperamos pelo inevitável, o inesperado nos surpreende.

Precisamos fazer política pensando nas pessoas, e não apenas em cidadãos sem rostos. A felicidade de cada um deve ser o fim supremo de todos os gestos públicos, não importa sob que regime — embora só a democracia nos possa dar plenas condições para essa prática. Se criticamos o transporte urbano, não é em busca de votos para um partido, mas porque desejamos que as pessoas, dentro de sua capacidade econômica, viajem bem, com conforto e paz de espírito.

As moças e rapazes que estão indo às ruas com tanto humor podem ser comparados a heróis de outras revoluções históricas. A revolução americana, que consagrou textualmente o direito à busca da felicidade, começou com uma esperteza lúdica de colonos da Nova Inglaterra, que se disfarçaram de indígenas para jogar o chá inglês ao mar, em protesto contra os impostos praticados pelo Império Britânico. A alegria indignada é a arma mais moderna das revoluções.

Em 1964, 68, 84 ou 92, a voz da rua reivindicava a troca da política então vigente por outra. Hoje ela se manifesta contra a política. Nossos oradores, em passeatas ou tribunas, eram admirados, conhecíamos as ideias de cada um deles, seguíamos seus eventuais partidos. Hoje as manifestações não têm líderes, ninguém faz discurso, cada um se expressa através do cartaz de cartolina que imaginar. Um deles, que vi na Rio Branco, dizia: “Meu coração não precisa de partido.”

A democracia representativa está em crise no mundo todo e não podia ser diferente no Brasil. Mas, como a democracia direta é a mãe do autoritarismo populista, precisamos encontrar um novo modelo de democracia participativa. Essas manifestações podem estar indicando um rumo nessa direção, mesmo que erradamente confundidas com a violência.

Ninguém aprova a violência praticada nelas, repeti-lo é quase uma platitude. Mas é preciso se dar conta da infiltração que o movimento vem sofrendo de quem não tem nada a ver com ele. Além de criminosos vulgares, há também os que desejam manipular as manifestações, direcioná-las para fins que não são os seus. Tenho visto muitos vídeos na rede que nos mostram a ação e os equipamentos usados por infiltrados integralistas, neonazistas e skinheads, com suas suásticas, socos ingleses e manifestos guerreiros.

Esses vídeos também nos revelam o arcaísmo cívico que é a existência de uma Polícia Militar no Brasil. Como diz Tulio Vianna, no blog da revista “Fórum”, ela é um contingente de soldados treinados para a guerra e abandonados na “frente de batalha”, a tratar como inimigos os cidadãos que devem proteger. Nossa Polícia Militar foi criada por D. João VI para proteger o rei do populacho da colônia. Se não acabarmos com ela, levaremos, quem sabe, mais um século para mudar sua ideologia.

Gosto muito de saber que a presidente e os políticos se manifestam sobre e até concordam com algumas das causas do movimento sem nome. O que é muito diferente, por exemplo, de Kadafi e Assad, que responderam aos protestos em seus países provocando uma guerra civil. Ou de um Erdogan arrogante que não aceita preservar uma praça para atender seu povo. Embora não creia que os políticos tradicionais sejam capazes de entender direito o que se passa ou que estejam mesmo dispostos a abandonar seus maus hábitos, torço para que o diálogo continue e dê certo.

Como torço pela selecão brasileira, nessa e em todas as Copas, em nome da alegria e do amor ao futebol, que não pode ser sufocado por razões mesquinhas e malfeitos dos outros. Construir um estádio como o Mané Garrincha, numa cidade em que a última final de campeonato teve menos de 2 mil espectadores, é uma insensatez e um desperdício que nos faz desconfiar de quem o praticou. Além de desrespeito ao brasileiro exemplar que deu o nome ao estádio. Mas torcer por um time é um gesto de pertencimento e confraternização, uma coisa da qual o país precisa muito. Domingo vou vestir minha camisa canarinho com o número 10 às costas e pongar no bonde que leva a rapaziada pro Maracanã.

Plebiscito em Marte

Plebiscito em Marte - GUILHERME FIÚZA

O GLOBO -
A presidente disse que os anseios das ruas eram os mesmos do seu governo. É preciso coragem para soltar um disparate desses sem gaguejar


Os parasitas da nação estão em festa. Os efeitos dos protestos de rua estão tomando o melhor caminho possível (para eles): constituinte, plebiscito, pré-sal... Os parasitas estão gargalhando em seus gabinetes. Sempre souberam que embromariam a multidão, mas não esperavam que fosse assim tão fácil.Ao fim da primeira semana de manifestações, Dilma foi à TV. Nas ruas, os protestos contra o aumento das passagens de ônibus mostravam o óbvio: a volta da inflação enfim tirara os brasileiros de casa. O transporte era só o item mais visível da escalada de preços em todos os setores. A vida ficou mais apertada – e a paciência acabou. Como todos sabem (ou deveriam saber), o governo popular abandonou a meta de inflação para irrigar sua formidável máquina de duas dezenas de ministérios. Mas na TV, Dilma parecia uma porta-voz dos revoltosos.

A presidente disse que os anseios das ruas eram os mesmos do seu governo. É preciso coragem para soltar um disparate desses sem gaguejar. O tal governo que anseia por mudanças governa o país há dez anos. E Dilma não deu uma palavra sobre gastos públicos – ou, em português, sobre a orgia orçamentária que seu partido preside no Estado brasileiro. Pregou a melhoria dos serviços públicos (supostamente os do Brasil), no momento em que seu governo bate mais um recorde de despesas – como sempre reduzindo os investimentos e aumentando o custeio (a verba dos companheiros). É preciso muita desinibição.

O projeto parasitário é desinibido porque a opinião pública é trouxa. E o pronunciamento da presidente foi engolido pelos brasileiros, incapazes de relacionar a inflação e a queda dos serviços com a administração perdulária e inepta da grande gestora.

Se o movimento que encanta o país fosse minimamente lúcido, cercaria o Palácio do Planalto depois desse pronunciamento. Poderia anunciar, pacificamente, que só sairia de lá com a extinção de pelo menos cinco ministérios inúteis, mantidos para alimentar correligionários. Ou com o compromisso da presidente de voltar a respeitar a meta de inflação. Ou denunciando o escândalo da “contabilidade criativa”, pelo qual o governo do PT passou a fraudar seu próprio balanço – seguindo a escola Kirchner-Chávez –, escondendo dívidas para poder gastar mais com cargos e propaganda.

Será que os heróis das ruas não percebem que é isso o que mais infla o custo de vida (e as passagens de ônibus)?

Não, não percebem. Uma líder do movimento declarou ao “Jornal Nacional” que a próxima prioridade era a reforma agrária... Aí os parasitas estouraram o champanhe. Era a senha para mandarem Dilma tirar da cartola uma constituinte: reforma política! (mesmo balão de ensaio usado por Lula quando estourou o mensalão). E o truque colou. Tiraram a constituinte de cena, mas deixaram o Brasil entretido no debate lunático sobre um plebiscito do crioulo doido. De brinde, Dilma prometeu transformar a “corrupção dolosa” em crime hediondo. Eles venceram de novo.

Enquanto gritam por cidadania, educação, dinheiro do pré-sal e felicidade geral, os revoltosos urbanos estão absolvendo Rosemary Noronha – a protegida de Lula e Dilma na invasão fisiológica das agências reguladoras (responsáveis pelos serviços que a presidente promete melhorar...). Estão absolvendo as quadrilhas que dominaram o PAC – reveladas pela CPI do Cachoeira, que Dilma abafou e nenhum manifestante reclamou. Estão chancelando todos os denunciados na época da faxina imaginária que continuam dando as cartas no governo, como o ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel. Os revoltosos estão sancionando a sucção e cantando o Hino Nacional.

Fica então uma sugestão de pergunta para o plebiscito: o Brasil prefere ser roubado por corrupção dolosa ou indolor?

sábado, 29 de junho de 2013

O verdadeiro pulso da nação

O verdadeiro pulso da nação - CORA RÓNAI

O GLOBO -

O melhor ponto de observação para as manifestações são as redes sociais, notadamente o Facebook. Nelas é possível não só acompanhar a reação das pessoas em tempo real, mas também ver a pouca, ou nenhuma, penetração do governo, em suas várias instâncias, na internet - o que talvez explique porque os protestos surpreenderam tanto os políticos, afastados da verdadeira opinião dos seus súditos por camadas de mordomias e de ocupantes de cargos de confiança.
Mesmo os políticos com presença mais assídua na rede nem sempre entendem os seus mecanismos.
O senador Roberto Freire, por exemplo, passa a maior parte do tempo que dedica ao Twitter respondendo a ofensas e dando trela a provocações.
Lamento, mas esse ruído - que afasta as pessoas interessadas em conversar e atrai os baderneiros virtuais - não pode ser confundido com diálogo.
A presidente, por sua vez, em plena época de descontentamento geral, passou os dois últimos dias recebendo representantes de movimentos sociais...
ligados ao governo! Ora, não é com eles que ela tem que se entender, como deixa claro a gritaria na rede, e sim com as pessoas que estão de fora das boquinhas.
Os movimentos sociais governistas, que nunca viveram tão bem, estão muito satisfeitos com Dilma e com o PT.
Em pleno ano de 2013, não é assim que se faz. Se a presidente está mesmo a fim de ouvir a população, o melhor a fazer é dar um bordejo pela internet.
Ela nem precisa perder seu precioso tempo navegando os mares da insatisfação pessoalmente; basta pedir um bom clipping a seus assessores. Se fizesse isso, evitaria o gol contra de "rezar para os convertidos", que é como os angloparlantes dizem "chover no molhado".
E o governador? No meio da semana, fez uma reunião com meia dúzia de gatos pingados que pertenceriam, supostamente, ao grupo de manifestantes acampado em frente à sua casa. Saindo do palácio, o tal grupo criou uma página no Facebook modestamente intitulada "Somos o Brasil" e postou um texto melancólico, em que se apresentava como voz das massas e alardeava uma próxima visita a hospital público em companhia do secretário de Saúde. Vergonha alheia total! Ontem à noite, o grupo, que se quer representativo, ostentava pouco mais de cem míseras curtidas.
O governo errou feio, errou rude. Na internet, a ordem dos fatores altera o produto: para dar a impressão de que está ouvindo a sociedade, um governador deve procurar um grupo que a represente, e não uma entidade da qual ninguém jamais ouviu falar. Em outras palavras, deve procurar quem tenha presença representativa na rede, reconhecida e eventualmente respeitada - e não juntar alguns amiguinhos que, depois do encontro, fazem página no FB.
A farsa não demorou a ser desmascarada. Desde que botou a página no ar, a turminha do Cabral não tem feito outra coisa a não ser apagar críticas - ou seja, todos os comentários, sem exceção - e os seus próprios posts. Há muito tempo eu não via um desastre de relações públicas tão explícito.
_ Não acredito em teorias conspiratórias, mas algo de muito estranho aconteceu na minha própria página do Facebook: o post em que eu falava da criação dessa página de amiguinhos sumiu sem deixar vestígios.
Tenho testemunhas: quando o vi pela última vez, ele tinha mais de uma centena de curtidas, dezenas de comentários e vários compartilhamentos. Fui dormir; quando acordei, não estava mais lá.
Gostaria muito que algum representante do Facebook me explicasse o que aconteceu, ou vou ter que concordar com os alarmistas que dizem que a rede está sob censura.

Foco na infiltração

Foco na infiltração - ZUENIR VENTURA

O GLOBO -

Não sei quem lançou a moda, nem onde nem quando, mas o fato é que a palavra “foco” alastrou-se como uma epidemia, isto é, de maneira “viral”, para usar outro modismo vocabular. O termo está em toda parte, passou a frequentar os mais variados ambientes e parece capaz de resolver todos os nossos problemas — ou de criá-los. Diz-se que o governo Dilma não perdeu o rumo, “perdeu o foco”. A seleção venceu não porque jogou melhor, mas porque finalmente “encontrou o foco”, explicou um comentarista na televisão. Os partidos de oposição são contra a proposta de plebiscito porque se trata de uma tentativa de “desviar o foco” da onda de protestos que tomou conta das ruas. Como não podia deixar de ser, a moda chegou também aos jovens manifestantes. Líderes do movimento têm enfatizado a necessidade de prestar atenção, ou melhor, de ‘focar” no risco de desvirtuamento das manifestações causado pela infiltração de vândalos, arruaceiros e demais bandidos encapuzados. Já está virando praxe: as passeatas começam pacíficas, ordeiras, vão engrossando e acabam em arrastões, com quebra-quebra, bombas, saques e conflitos. Seis pessoas já morreram em Minas, SP, Pará e Goiás.

Representantes do Movimento Passe Livre chegam a desconfiar, sem provas, de que a PM de SP esteja infiltrando agentes para incitar a desordem nos protestos, uma hipótese repelida pela polícia. De qualquer modo, segundo eles, os cuidados “foram redobrados”. Por outro lado, já se notam em certos setores da sociedade sinais de preocupação e medo. No Rio, como mostrou ontem a repórter Laura Antunes, houve uma queda de até 50% no faturamento de shoppings, lojas de rua, hotéis e bares nos quatro dias de tumultos na cidade. Clínicas médicas e odontológicas também tiveram prejuízo. O boato espalhado pelas redes sociais de que haverá uma greve geral na segunda-feira já serviu para cancelar reservas em restaurantes da Zona Sul carioca.

Além disso, há o estresse de parte a parte. “O cansaço físico e mental está visível no semblante de cada PM”, registrou a repórter Ana Cláudia Costa. Como exigir serenidade de policiais que há duas semanas estão virando sem folga e sob tensão? Também entre os manifestantes não se sabe até quando vai ser possível manter esse ritmo quase ininterrupto de participação. Talvez por isso já surjam entre eles divergências e dissidências, o que é mais ou menos natural. É uma questão, digamos, de foco. Risco mesmo, capaz de corroer o movimento, é a insistente infiltração dos marginais.

Pintas móveis

Pintas móveis - RUY CASTRO

FOLHA DE SP -

RIO DE JANEIRO - Foi no tempo das indiretas. Em janeiro de 1985, Paulo Maluf e Tancredo Neves disputaram a Presidência da República pelo voto dos 660 deputados e senadores que compunham o então Colégio Eleitoral. Maluf era o candidato do governo, ainda militar; Tancredo, da oposição. Pelos manuais vigentes, Maluf teria o voto fisiológico, dos políticos que não admitiam perder a boca; Tancredo, o ideológico, dos que, de fato, queriam a volta à democracia.

Um ano antes, Maluf levaria de barbada --a maioria dos políticos não gostava de desagradar os militares. Só que, naquele ínterim, milhões de brasileiros tinham saído às ruas exigindo eleições diretas. Não conseguiram, mas os políticos sentiram a mudança do vento. No dia da eleição, Tancredo ganhou por 480 a 180, com 26 abstenções. Significando: os fisiológicos se passaram em massa para o seu lado, e os que aceitaram perder com Maluf o fizeram por motivos, quem sabe, ideológicos.

Desde então, entra Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula ou Dilma, e lá estão eles, sacrificando-se pela nação e sempre à disposição do poder, não importa de onde seja emanado. Políticos são como água, tomam a forma que os contêm --mas os nossos assombram pela flexibilidade de suas convicções.

Neste momento, por exemplo, ao som das ruas, eles estão batendo todos os recordes de aceitação da pauta popular. Nos últimos dias, cancelaram os reajustes de passagens de ônibus e de pedágios nas estradas, reduziram tarifas de transporte, destinaram os royalties do petróleo para educação e saúde, derrubaram a PEC 37, consideram acabar com o voto secreto entre eles e, intrépidos, tornaram a corrupção crime hediondo, aumentando as penas e levando à prisão dos políticos condenados.

"Pode o leopardo mudar suas pintas?", perguntou o profeta Jeremias (13:23). Os de Brasília podem.

ILUSIONISTA

MAIS UM DAQUELES SHOWS QUE BEM QUE PODERIA TER ASSISTIDO AO VIVO. DESTA FEITA FOI O DE UM ILUSIONISTA NO BRITAIN'S GOT TALENT. VALE A PENA ASSISTIR.

A HORA NÃO É AGORA!

Percival Puggina
Para entender o princípio diretor de todas as estratégias petistas não é preciso ser mestre em xadrez, treinado a antecipar sucessivas consequências de um lance. Basta saber isto: o PT jamais, em hipótese alguma, defenderá causa política na qual não leve vantagem. Entendido o axioma, fica fácil deduzir que propostas de reforma eleitoral apresentadas e defendidas pelos petistas precisam ser rejeitadas pela origem.

Entre os poucos fios condutores capazes de unir todos os movimentos de massa destes últimos dias está o monumental repúdio à conduta dos políticos e às instituições nacionais. Nosso modelo é velho na forma e velhaco na execução. A desfaçatez, as ostentações e as malfeitorias que saltitam como pipoca na panela revoltam a população. Os raros afluentes de água limpa que chegam ao mundo político perdem seus efeitos na turbidez dos negócios. Torna-se impossível, então, não sentir o dedo indicador atraído como agulha de bússola para o norte e para o topo das instituições políticas. Ali - bem ali, oh! - onde senta e fala a chefia de Estado, antes Lula e hoje Dilma.

E Dilma veio às falas. Primeiro, propôs uma Constituinte, como fizeram seus parceiros do Foro de São Paulo na Venezuela, Bolívia e Equador. No dia seguinte, face à notória inconstitucionalidade da proposta, a Constituinte do PT virou plebiscito sobre temas de uma reforma política. Ora, por mais que o modelo institucional brasileiro seja o lixo que se sabe, não responde aos mínimos requisitos de prudência fazer mudanças num ambiente de instabilidade. Este é o momento certo para outra coisa: mostrar aos "camisa branca", aos manifestantes bem intencionados, ser contraditório excomungar os políticos genericamente e não responsabilizar, objetivamente, o partido e as pessoas que, ao longo dos últimos dez anos comandam essa mesma política, levando o país para onde bem entendem e como melhor lhes convém. Este é o momento de lembrar que nem o lacerdismo foi tão pródigo em lançar denúncias e anátemas sobre seus oponentes quanto o petismo. E que nenhum outro foi tão longe na apropriação do Estado, do governo e da administração para os fins do partido e dos companheiros no poder. Por fim, separar essas três funções - Estado, governo e administração -, atribuindo-as a pessoas distintas, seria a primeira e a principal reforma institucional. Mas desta quase ninguém fala porque significaria retirar o recheio e a cobertura do bolo do poder.

A cautela ensina, até mesmo no plano individual, que não se deve tomar decisões de efeito permanente em momentos de instabilidade emocional. É o que se recomenda ao Brasil agora. A maior imprudência que se pode cometer neste momento é entregar à atual base do governo, amplamente majoritária no Congresso, decisões sobre como devem ser as eleições do ano que vem. Pensando bem, isso é tão evidente que este texto parece totalmente desnecessário, não é mesmo? 

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